Ainda lembro o dia, ainda consigo lembrar da primeira vez
que te vi. Era no início do ano, naquele dia tudo estava nublado, uma manhã com
muitas pessoas pelo campus, me recordo ainda do fenômeno estranho que
aconteceu. Te vi de longe, com seus óculos pesados e pretos, teus lábios
pintados com um vermelho forte, e o contorno delicado do seu rosto, fazia uma
brisa fraca, mas que não rachava os lábios. Tua blusa preta e jeans antigo,
aquele seu tênis de caminhada antigo. Algo me passa pela cabeça, volto a fixar
o olhar, mas você já tinha ido, se desfez, e me procurei, tive a sensação de me
perder e criei uma necessidade de me encontrar novamente.
Você era nova no meu curso e eu nem sabia. Já são 3 de
manhã, já se passaram 3 semanas, e ainda me busco. Meu café já esfriou sob a
escrivaninha, e meu celular vibra. Era você, me perguntando sobre as matérias
do semestre.
Eu não sabia, mas naquele momento já estávamos em sincronia,
pois, sem eu saber você também se procurava...
Já se passaram algumas semanas desde então, e agora me
pergunto às vezes, em que ponto você desistiu da gente, quando percebeu que
nosso satélite não estava mais em órbita, quando você desistiu de bater na
porta e resolveu pular a janela que dava de frente pra rua.
E tudo isso eu faço, pois bem, olhando no meu celular.
Revendo a mensagem que você mandou, perguntando as mesmas coisas de sempre, e o
ritual de sempre, me pego negando responder, respondo, espero, online, não
visualiza, manda já volto, começou com minutos, hoje seu já volto são horas.
Em que momento da curta trajetória, você resolveu apertar
seu botão e ejetar do nosso itinerário. A história de que os sinais sempre
estão à vista é verdade. E se tudo começou com aquele jantar que combinamos,
mas de última hora desmarcou e saiu pra jantar com suas amigas. Ou da vez que
resolveu sair mais cedo daquele aniversário.
Me pego pensando e te renegando mais uma vez, hoje não te
responderei mais.
Jogo o telefone de lado, desligo a internet, deito na cama,
mas ligo de novo e te respondo. Hoje já sem as conversas que virávamos a noite
e a química incrível de termos assunto novo e o trabalho bom de reciclar manias
e conversas antigas. Hoje o máximo que faço é o jogo de digitar e apagar, com
receio de você ver que me sufoca ainda, e que minha indiferença velada está
corrompida pela necessidade do imediatismo nosso.
Mas OH eu to bem sim. Pode ter certeza. Só não me faz esse
jogo de se importar em manter aparências. Isso machuca, me corrói,sério.
E hoje estou decidido, não irei ter novamente a dose sua que
me faz manter sua presença. Seu já volto está aqui desde a noite passada, e
agora pela manhã, você esta digitando uma mensagem, parece um texto, ou você
também apaga e digita? Bem
de todo caso, irei me manter firme quando enviar... Até quando não sei.