sábado, 1 de agosto de 2015

Hoje não vou te responder

Ainda lembro o dia, ainda consigo lembrar da primeira vez que te vi. Era no início do ano, naquele dia tudo estava nublado, uma manhã com muitas pessoas pelo campus, me recordo ainda do fenômeno estranho que aconteceu. Te vi de longe, com seus óculos pesados e pretos, teus lábios pintados com um vermelho forte, e o contorno delicado do seu rosto, fazia uma brisa fraca, mas que não rachava os lábios. Tua blusa preta e jeans antigo, aquele seu tênis de caminhada antigo. Algo me passa pela cabeça, volto a fixar o olhar, mas você já tinha ido, se desfez, e me procurei, tive a sensação de me perder e criei uma necessidade de me encontrar novamente.
Você era nova no meu curso e eu nem sabia. Já são 3 de manhã, já se passaram 3 semanas, e ainda me busco. Meu café já esfriou sob a escrivaninha, e meu celular vibra. Era você, me perguntando sobre as matérias do semestre.
Eu não sabia, mas naquele momento já estávamos em sincronia, pois, sem eu saber você também se procurava...
Já se passaram algumas semanas desde então, e agora me pergunto às vezes, em que ponto você desistiu da gente, quando percebeu que nosso satélite não estava mais em órbita, quando você desistiu de bater na porta e resolveu pular a janela que dava de frente pra rua.
E tudo isso eu faço, pois bem, olhando no meu celular. Revendo a mensagem que você mandou, perguntando as mesmas coisas de sempre, e o ritual de sempre, me pego negando responder, respondo, espero, online, não visualiza, manda já volto, começou com minutos, hoje seu já volto são horas.
Em que momento da curta trajetória, você resolveu apertar seu botão e ejetar do nosso itinerário. A história de que os sinais sempre estão à vista é verdade. E se tudo começou com aquele jantar que combinamos, mas de última hora desmarcou e saiu pra jantar com suas amigas. Ou da vez que resolveu sair mais cedo daquele aniversário.
Me pego pensando e te renegando mais uma vez, hoje não te responderei mais.
Jogo o telefone de lado, desligo a internet, deito na cama, mas ligo de novo e te respondo. Hoje já sem as conversas que virávamos a noite e a química incrível de termos assunto novo e o trabalho bom de reciclar manias e conversas antigas. Hoje o máximo que faço é o jogo de digitar e apagar, com receio de você ver que me sufoca ainda, e que minha indiferença velada está corrompida pela necessidade do imediatismo nosso.
Mas OH eu to bem sim. Pode ter certeza. Só não me faz esse jogo de se importar em manter aparências. Isso machuca, me corrói,sério.

E hoje estou decidido, não irei ter novamente a dose sua que me faz manter sua presença. Seu já volto está aqui desde a noite passada, e agora pela manhã, você esta digitando uma mensagem, parece um texto, ou você também apaga e digita? Bem de todo caso, irei me manter firme quando enviar... Até quando não sei.

Carência de mais, amor de menos

Certa vez alguém me confidenciou:         –Você é um  carente.
Ainda me recordo do meu último relacionamento de como tudo era metalizado, e, além disso, me recordo de como foi fácil me apegar ao que se materializava espontaneamente e me deixava encabulado a cada nova SMS e ligações nas horas inesperadas. É fácil ver o início de tudo com outros olhos e apontar os erros do que já se foi, agora,  que estamos sem ninguém, e que aquela peguete já dá sinais de que vai recusar seu próximo convite, para aquele show que tanto quer ir, mas não quer ir só, esperando segundas intenções no fim da noite.

Escrevo subentendida mente aos sábios homens meninos, que já entraram na casa dos 20 e poucos, que passam pelas crises da meia idade. Quando parece que seus amigos iniciam novos rumos, com diversas subdivisões, os que namoram os que deixaram de beber, os que se aproximaram de vez e fecharam o círculo, e você ficou de fora, os amigos da balada que te chamam vez ou outra, mas como alguém com medo de compromisso não te procuram para saber se você está bem, se precisa de um ombro amigo, esperam apenas curtir uma noite e lembrar de um passado recente.

-Oi - eu ligo
- Oi, quanto tempo, como tá?
- Muito mesmo, planos pra noite?
- Não...
- Tenho umas cortesias, para aquela balada que abriu agora. Passo ai às 11h?
- Não vai rolar, tenho que desligar.
A pior desilusão de alguém que por carência resolve entrar num relacionamento ‘’sem compromisso’’, é imaginar que o outro que aceita ser envolvido, será sempre sua última cartada. E quem não possui na lista do celular um número de emergência para aquela noite, em que está só, em que o seu desejo para acordar no outro dia transtornado depois de uma transa boa, sem pressa. A carência traz benefícios a quem sabe lidar com ela.

Em um momento tão apático depois de ter sentido que o amor é algo tão escasso e rápido, e constatar que relações sociais não são garantias eternas de companhia, a carência me convém. Não só a carência do sexo, mas a carência de amigos, diz-se que o amor é difícil de ser encontrado, eu acredito que amigos fiéis são mais. E estes só entram em nossas vidas quando nos 
permitimos de verdade – E daí que nos conhecemos por amigos de amigos, há dois meses e nos tratamos como melhores amigos? E daí que eu sou visto com aquela pessoa de sempre como se fosse uma roupa velha.
É engraçado o pré julgamento feito sobre isso, tenho amigos que me confidenciam excluir vez ou outra um amigo antigo, por imaginar o que irão pensar. Imaginar que tenham um hall de amigos supostamente baixo, ou algo semelhante. Não tenho vergonha de argumentar que hoje não possuo mais do que 5 verdadeiros, e que sou carente sim, mas valorizo estes com tudo o que posso. Para quem imagina que a vida gira em torno de quantas curtidas leva, ou quantas fotos foi marcada e quantas SMS trocou durante o dia, repense.

Por um mundo com mais carentes, que buscam companhias boas, que se entregam ao sexo como se fosse a última vez, e que se agarram aos amigos verdadeiros, mas que estão sempre abertos a novos amigos que sejam intensos. Pela carência que gera atitude e menospreza a monotonia do amor idealizado. 


As luzes

E com o passar dos dias as marcas das pegadas se apagam. A trilha de folhas secas se esvai. Com o passar das horas os pensamentos mudam, os hormônios sincronizam o relógio biológico, é a luta pela sobrevivência. A lama seca, os poros transpiram, e exalam. O banhar na fonte contínua, com seu  fluxo pelo caminho das pedras, mesmo precipitando e voltando pro início, elas continuam, em frente, sempre em frente. O pressuposto de querer não é sofrer, a cobiça amarga, que envenena a garganta, que enfraquece a alma. O olhar pra trás displicente. O turbilhão de mil pensamentos, bons e ruins. O reluzir fraco da lâmina gasta, o sangue seco, com feridas se fechando. O cortar dos pontos profundos, um por fim de abrir os olhos, balançar a cabeça, molhar-se na água fresca e seguir, em frente, sempre em frente.