Lá vai você, contornando a rua entrando naquela loja
de presentes que eu sempre te prometi que iriamos.
Passei distraído, satisfeito depois de sair mais
cedo da aula. Tava um sol forte, andava em ritmo lento, parei o carro no
cruzamento, olhei pra direita e olhei para a esquerda. Um relapso de sinestesia
me tomou, já fazem dois anos ou será que é menos¿ não sei.
Parei e como se observasse um fantasma, um fantasma
branco de cabelos negros, pequeno e delicado, que se movia com os mesmos passos
ligeiros, paralisei. Incrível os sentimentos que se afloram, como se o brilho
de uma mente sem lembranças de repente iluminasse todo meu ser, e por uns
instantes eu me perco sem saber onde estou, e onde vou, e no que pensava
momentos antes.
Ela abre a porta da loja, empurrando-a com a mesma
delicadeza que fazia para me afastar dela nas nossas brincadeiras bestas... Ela
entra sem olhar pra trás, assim como da última vez que nos despedimos... Ah se
você tivesse olhado pra trás, onde será que estaríamos agora¿ Entrando na loja
juntos, ou indo te buscar em casa para nos irmos lá em casa assistir um filme,
te olhar enquanto você magicamente preparava alguma coisa da minha geladeira...
que eu só lembrava de ter catchup.
A porta se fecha, alguém buzina atrás de mim, e saio
como se estivesse acordado de um sonho. São sentimentos que me fazem aquecer de
novo as fagulhas que parecem não querer apagar.
Essa coisa de aprender a não ter sentimento nenhum
por quem já passou pela sua vida devia vir com um guia. Ou pelo menos algumas
casas como marco de que você tá evoluindo ou regredindo... como no jogo da
vida.
Bem
verdade, que hoje já não tenho vontade de te mandar mensagem, mas é duro ver
você comentando em grupos de whats, não vou negar. É um misto de me importo e
gostaria de saber como você tá, e um supera de vez isso.
A
gente foi vivendo, se esquecendo, se apegando a outras pessoas, até trocamos
confidencias como amigos... mas não deu certo.
É
estranho imaginar almas que se entrelaçaram por tempos, que trocaram caricias,
se entregaram em planos para mais de anos, que viraram um ser conjunto ao serem
referidos na roda de amigos, serem hoje apenas duas pessoas que se incomodam em
dividir o mesmo espaço em menos de 2 metros.
É obvio que o passado é passado, mas o que vivemos é
o presente, e isso nenhum livro de auto ajuda vai poder refutar, e o passado
esse não muda, mas o presente esse é a gente quem faz... E por isso hoje em dia
não me julgo, quando me perco nesses pensamentos passados. Não me pego
simplesmente pensando em coisas antigas, mas refletindo sobre o presente. As
lições que tiro disso, só eu sei.